sexta-feira, 16 de agosto de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Vós sois maçom?
Muito já foi
escrito como resposta a questão: Vós sois maçom? A começar com a distinção
desta questão da outra feita na forma: Tu és maçom? Onde as palavras vós e tu
são ocultadas.
Hoje, também,
vou dá a minha opinião, o meu acho. Mesmo sabendo do desespero que irei causar
naqueles que consideram o livre pensar na maçonaria como algo danoso. É comum a todos os maçons a afirmação de que o
lugar em que nos reunimos, semanalmente, é sagrado. Assim como o fato de que só
pode participar dos trabalhos maçônicos, em loja, aquele que é reconhecido como
maçom. O que vale dizer: reconhecido
como um homem que pode adentrar no lugar sagrado ao fazer maçônico.
Daí decorre
que a palavra ‘sagrado’ é fundamental na formação e na identificação do maçom.
Sendo assim, necessário se faz que deixemos claro o que o dicionário da língua
portuguesa define como sagrado. “Sagrado é aquilo ao que não se pode faltar;
que não se pode deixar de cumprir”. Logo ao sagrado está associado um sacrifício.
Portanto, sugiro trocar a questão primeira, que é de ordem subjetiva, por outra
de ordem objetiva: Qual o sacrifício exigido de um obreiro para ser reconhecido
como maçom?
A lista é grande,
a começar pelas condições sem as quais ele não poderia ter sido iniciado: ser
livre e de bons costumes. Mas como estas são apenas preliminares, proponho como
resposta duas simples obrigações ou sacrifícios: estar em dia com a tesouraria
da loja e participar regularmente, com frequência semanal, das sessões da loja
a qual o obreiro é filiado.
Parece pouco
apresentar estas obrigações como sacrifícios; até mesmo para muitos obreiros,
isto em verdade é um prazer. Entretanto, se estas obrigações forem cumpridas
pela maioria dos obreiros filiados a uma loja maçônica, esta não terá nenhum
problema em alcançar o objetivo pelo qual ela foi fundada. Entretanto, quando contemplamos às nossas
augustas oficinas o que vemos? Abundância de sacrifício ou escassez?
Respondo
pela qual sou filiado: no inicio do corrente ano tínhamos no quadro de nossa
oficina 75% de obreiros com o rótulo de irregular. O que vale dizer: não
compareciam as sessões da loja e nem contribuíam monetariamente. Portanto,
foram reconhecidos como obreiros irregulares. O que vale dizer: tendo o direito
suspenso de ser reconhecido como maçom aquele obreiro que não oferecia o seu
sacrifício à manutenção do sagrado.
Por fim:
quando fores indagado se sóis maçom, verifiqueis se estás em dia com os vossos
compromissos básicos com a loja, antes de responder que os maçons me reconhecem.
Melquisedec, Vale do Mirante, aos 10 dias do mês de junho do ano 2013 da revelação do nome de Deus.
domingo, 4 de agosto de 2013
II FORRO DOS NAVEGANTES (veja como foi!)
Aconteceu no ultimo 27 de Julho o II FORRO DOS NAVEGANTES no Rancho Olho D'agua, evento realizado pela Loja Maçonica Navegantes do Oriente.
O Forro dos Navegantes contou com a presença de Maçons, cunhadas, familiares e amigos da Loja.
Dentre as atrações, tivemos forro pe de serra durante toda a festividade!
![]() |
Como muito arrasta pe, todos divertiram-se, dançando e confraternizando! |
![]() |
Com direito a fogueira para aquecer ainda mais a noite e assar um milhinho! |
![]() |
As cunhadas se revezaram na preparação das comidas tipicas |
![]() |
E para os sortudos da noite |
Brindes |
sábado, 3 de agosto de 2013
A Maçonaria na Paraíba
INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO/IHGP
Fundado em 7 de setembro de 1905 Declarado de Utilidade Pública pela Lei no 317, de 1909 CGC 09.249.830/0001-21 - Fone: 0xx83 3222-0513 CEP 58.013-080 - Rua Barão do Abiaí, 64 - João Pessoa-Paraíba |
|15º Tema
A Maçonaria na Paraíba
Expositor: Hélio Nóbrega
Zenaide
Debatedor: Edgar Bartolini
Filho
A fala do
Presidente:
Vamos
dar continuidade ao nosso já importante Ciclo de Debates sobre a participação
da Paraíba nos 500 anos de Brasil com a programação de hoje abordando A
MAÇONARIA NA PARAÍBA.
Componho
a mesa com nosso sócio Hélio Zenaide, que será o expositor; com Edgard
Bartolini Filho, Grão Mestre da Grande Loja do Estado da Paraíba; Joacil de
Britto Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras.
Chamo
a atenção dos presentes sobre a organização do programa deste Ciclo de Debates.
Primeiro, falamos sobre A IGREJA NA PARAÍBA, depois sobre A INQUISIÇÃO NA
PARAÍBA e agora sobre A MAÇONARIA NA PARAÍBA. Há, portanto, um elo de ligação
entre essas grandes instituições que comportam episódios transcendentais na
nossa História.
Hélio
Nóbrega Zenaide foi indicado unanimemente pela Comissão Organizadora do certame
para ser o responsável por esse tema. Hélio é bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Possui vários cursos. Tem um sobre
Desenvolvimento do Brasil, que cursou no Instituto Superior de Estudos
Brasileiros – ISEB – e nem sei como não foi preso em 64; tem curso sobre
Desenvolvimento, feito na SUDENE; freqüentou a ADESG, naqueles cursos que davam
garantia de sobrevivência durante a ditadura de 64; foi Secretário de
Comunicação e de Educação do Estado, e é um grande jornalista, tendo
participado do quadro redacional de todos os jornais da capital, inclusive do
JORNAL DE AGÁ, do qual fui o editor,
onde ele mantinha uma seção sob o título de RONDA DOS ARQUIVOS. Hoje é um
historiador consagrado, pelos trabalhos que tem editado.
Sendo
um maçom da velha guarda, foi convidado para fazer a palestra de hoje.
Passo
a palavra do confrade Hélio Nóbrega Zenaide.
Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide (Sócio do Instituto Histórico, pesquisador, jornalista):
INTRODUÇÃO
A Maçonaria é uma
instituição que procura contribuir para o aperfeiçoamento moral, intelectual,
social, cultural e material do homem, buscando cultivar, sob a égide de Deus –
o Grande Arquiteto do Universo – a
prática da fraternidade humana universal, sem distinção de raça, cor,
nacionalidade, pensamento filosófico, ideal político ou religião.
Ela
tem por divisa Liberdade, Igualdade e Fraternidade e por lema Justiça, Verdade
e Trabalho.
Prega
o amor da pátria e a paz entre todos os povos.
Não
é uma instituição política, mas, historicamente, tem contribuído para os
grandes ideais políticos da Humanidade.
A
história da Maçonaria na Paraíba deve ser uma expressão de luta pela implantação desses valores no
nosso processo evolutivo.
É
sua obrigação fazer-se presente com esses valores em todos os campos da
atividade humana em nosso Estado, no Poder Executivo, no Poder Legislativo, no
Poder Judiciário, na vida intelectual, na vida econômica, na indústria, na agricultura, no comércio,
nos serviços, na vida religiosa, na vida educacional, nas profissões liberais.
Seu
objetivo é praticar esses valores na ordem social.
Por
tudo isso, a sua bandeira é uma bandeira de esperança de melhores dias para a
Grande Família Humana Universal.
1 . A MAÇONARIA
NO BRASIL
Em
sua HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA, Editora
Aurora, 1979, assinala Nicola Aslan que a Maçonaria veio para as Américas com a
luta contra o colonialismo e os ideais de independência e república, aqui se
infiltrando através das chamadas sociedades secretas.
Ele diz
textualmente (pg. 35):
“No Brasil, o
movimento pela independência teve início no seio das sociedades secretas, que
tanto tinham de literárias como de políticas, e das quais algumas podem ser
aqui citadas:
1752 – Associação Literária dos Seletos,
no Rio.
1759 – Academia dos Renascidos, na Bahia.
1772 – A Científica, no Rio.
1786 – Academia Ultramontana, no Rio.
1796 – Areópago de Itambé, em Pernambuco.
Mas, de todas
essas sociedades secretas, a que maior importância e celebridade alcançou foi,
sem dúvida, esta última. Vários autores ligam o Areópago à Maçonaria,
afirmando-se mesmo que ele estava organizado nos moldes das Lojas Maçônicas. O
seu fundador, Dr. Manoel de Arruda Câmara, formara-se em Montpellier, na
França, cuja universidade, fundada em 1289, celebrizara-se, principalmente,
pelo ensino da medicina. E Montpellier foi um importante centro maçônico, onde,
por volta de 1778, o famoso beneditino Antônio José Pernety formara o Rito
da Academia dos Verdadeiros Maçons, inteiramente dedicado ao ensino das
ciências herméticas.”
Naquela época, nada
menos de cinco Lojas Maçônicas estavam localizadas em Montpellier, de onde o
paraibano Manoel de Arruda Câmara trouxe os ideais maçônicos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, da
Revolução Francesa.
Em seu livro O
CLERO E A INDEPENDÊNCIA, Dom Duarte Leopoldo, Arcebispo de São Paulo, escreve a
respeito:
“Quase na mesma
época, florescia em Itambé o Areópago do dr. Manoel de Arruda Câmara, centro de
estudos, onde se discutiam as idéias mais avançadas do liberalismo. Chegou-se
mesmo a suspeitar que essa sentinela do nativismo brasileiro, perdida entre os
sertões de Pernambuco e Paraíba, contava com o apoio de homens poderosos,
dentro e fora do país, decididamente protegidos por Napoleão Bonaparte.”
( Conf. Rocha Pombo, HISTÓRIA. DO BRASIL, vol. VII, pg. 340 ).
Gustavo
Barroso, em sua HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL, escreve:
“Um dos Arruda
Câmara, o botânico, médico, formado em Montpellier, partidário exaltado das
idéias francesas, fundara o Areópago, sociedade secreta, intencionalmente posto
nos limites de Pernambuco e Paraíba, que
doutrinava para a democracia e a revolução maçônica, sementeira de onde
brotaram os grandes movimentos revolucionários do Brasil, no século XX. Do
Areópago provêm a Academia dos Suassuna, a Academia do Paraíso, a Universidade
Secreta, de Vicente Ferreira dos Guimarães, a Oficina de Iguaraçu.”(
vol. I, pg. 205 ).
Na
REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO PERNAMBUCANO, XIX, 1917, pgs. 171-172, num
trabalho sobre As Sociedades Secretas de Pernambuco, lê-se a transcrição da
seguinte nota de Oliveira Lima:
“A primeira loja maçônica fundada em
Pernambuco foi o Areópago de Itambé. Foi seu fundador Manuel de Arruda Câmara.
Faziam parte desta loja desde 1798 entre outros, o irmão de Arruda Câmara, que era
médico, como ele, os três irmãos Francisco, Luís Francisco e José Francisco de
Paula Cavalcante de Albuquerque, o padre João Ribeiro Pessoa de Melo
Montenegro, discípulo de Arruda Câmara, o capitão André Dias Figueiredo, os
padres Antônio e Félix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antonio de
Albuquerque Montenegro. Em 1801, com a denúncia de conspiração levantada contra
os irmãos Cavalcante, o Areópago foi dissolvido.” – LIMA, Manoel de
Oliveira, nota nº XXIII. In. TAVARES, Muniz, História da Revolução de Pernambuco.
Esse
Antonio de Albuquerque Montenegro, citado por Oliveira Lima, era filho do meu
tetravô Francisco Dias de Melo Montenegro, que era primo do padre João Ribeiro
Pessoa de Melo Montenegro, braço direito de Manoel de Arruda Câmara na fundação
do Areópago de Itambé.
Meu
tetravô morava no Engenho Oratório, na fronteira de Pernambuco e Paraíba, e
o padre João Ribeiro Pessoa de Melo
Montenegro deve ter escolhido o Engenho
Oratório para instalar o Areópago de Itambé porque ali contaria com a
hospitalidade de Francisco Dias de Melo Montenegro. Ele e Arruda Câmara se hospedavam
realmente naquele engenho. Francisco Dias de Melo Montenegro, teve 12 filhos,
um deles, meu bisavô Capitão Antero Francisco de Paula Cavalcante Montenegro,
pai do meu avô paterno, senador Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque.
Dois
filhos dele eram membros ativos do
Areópago de Itambé: Antonio de Albuquerque Montenegro e André. Quando foi esmagada a Revolução de 1817, e o
padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro suicidou-se no Engenho Paulista,
para não ser preso e trucidado pelas tropas legais, os filhos de Francisco Dias
de Melo Montenegro, com medo da perseguição e de prisão, fugiram do Engenho
Oratório. Meu bisavô, Capitão Antero Peregrino de Paula Cavalcante Montenegro,
embora nascido depois da Revolução, foi morar
em Patos, ali comprando a
fazenda Cacimba dos Bois, onde nasceu
meu avô.
Vários
paraibanos maçons freqüentavam o Areópago de Itambé, como registra Irineu
Ferreira Pinto, e, assim, podemos
considerá-lo também paraibano. Até gente de Itabaiana e de Pilar ia para as reuniões do Areópago de Itambé. Uma dessas pessoas era o padre Antônio
Pereira de Albuquerque, do Pilar, que foi preso e condenado à morte. Ele era da
família de Francisco Dias de Melo Montenegro e do padre João Ribeiro Pessoa de
Melo Montenegro. Outra, era o padre
Antonio Félix Velho Cardoso, de Itabaiana. Estas informações estão em Irineu Ferreira Pinto,
no seu livro DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA, 1º volume.
Eu
chamo a atenção para esses detalhes porque alguns historiadores chegam até a
negar a existência do Areópago de Itambé.
O
nosso confrade José Octávio de Arruda Mello, por exemplo, inclina-se também por
essa opinião na sua HISTÓRIA DA PARAÍBA; ele chega a dizer que o Areópago não
deve ter existido porque Manoel Arruda Câmara nunca morou em Itambé. Mas isso
não é um argumento que me impressione. André Vidal de Negreiros nunca morou no
Morro dos Guararapes, mas se tornou herói do Morro dos Guararapes.
A
Maçonaria foi iniciada, assim, em Pernambuco e Paraíba, através do paraibano
Manoel de Arruda Câmara e lutando por um ideário político de independência e
república.
2 – A MAÇONARIA FOI INICIADA EM PERNAMBUCO E PARAIBA ATRAVÉS DO PARAIBANO MANOEL DE ARRUDA CÂMARA
E LUTANDO POR UM IDEÁRIO POLÍTICO DE INDEPENDÊNCIA E REPÚBLICA.
Com
efeito, a Revolução de 1817, em Pernambuco e na Paraíba, coincidiu com um
período de expansão do liberalismo no mundo ocidental. No Brasil, as idéias
liberais vinham sendo propagadas desde os fins do século XVIII, notadamente
através das sociedades secretas.
Em
Pernambuco, o Areópago de Itambé e várias academias e Lojas Maçônicas foram
ponto de reunião para discussão desse ideário político.
A
influência da Maçonaria na propaganda revolucionária foi reconhecida e
destacada pelo desembargador do Tribunal de Alçada, criado para julgar os
presos pronunciados na devassa aberta em 1817. João Osório de Castro Falcão
escreveu a Tomás Antonio Vila Nova Portugal, dizendo que as idéias
revolucionárias propagadas desde 1801, cresceram e se expandiram através das
Lojas Maçônicas
E o maçom Domingos José Martins, depois da
morte de Manoel de Arruda Câmara, deu
novo impulso à conspiração, com o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro,
que integrou o Governo Provisório da
Revolução.
Eles
lutavam pela independência, contra o sistema colonial e contra o regime
monárquico, que desejavam ver substituído por uma forma republicana de governo,
como acontecera nos Estados Unidos.
Sobre o Padre João Ribeiro Pessoa de Melo
Montenegro, é importante esta confirmação de uma historiadora pernambucana,
citando Tollenare:
“Padre João Ribeiro Pessoa de Melo
Montenegro. Nasceu em Tracunhaém, não longe do Recife. Discípulo de Arruda
Câmara, freqüentava o Areópago de Itambé, onde se iniciou nas “novas idéias”.
Professor de desenho e segundo Tollenare homem instruído e sem fortuna,
filósofo e estudioso de
ciências, leitor dos antigos e novos filósofos, aspirava a liberdade por
amor e não por ambição.”
3. DEPOIS DO AREÓPAGO DE ITAMBÉ
Há
notícia de que em 1822 foi fundada na capital paraibana uma Loja Maçônica, a
LOJA MAÇÔNICA PELICANO, que teria sido a primeira instalada propriamente na
Paraíba. Não temos, entretanto, maiores informações acerca da LOJA MAÇÔNICA
PELICANO, organizada, certamente, ao calor do movimento da nossa Independência.
Tudo indica que
a cruel perseguição movida contra os
revolucionários de 1817 esfriou, por
algum tempo, a expansão do movimento maçônico
na Paraíba, porque outras Lojas
Maçônicas só vieram a surgir 69 anos depois da fundação do Areópago de Itambé,
que se deu em 1796.
Nem
mesmo a fundação do GRANDE ORIENTE DO BRASIL, em 17 de junho de 1822, no Rio de
Janeiro, às vésperas da Independência, e do ingresso de D. Pedro I em seus
quadros, foi capaz de imprimir maior
impulso à Maçonaria na província.
Embora
o papel da Maçonaria na Independência
tivesse sido decisivo e ela saísse
fortalecida do acontecimento,
somente 43 anos depois do Grito do Ipiranga os paraibanos se animariam a organizar as primeiras Lojas Maçônicas no seu território.
4. AS PRIMEIRAS
LOJAS MAÇÔNICAS NA PARAIBA DEPOIS DA LOJA MAÇÔNICA PELICANO
Temos
notícia de que a primeira Loja Maçônica efetivamente instalada na Paraíba
depois da Independência, foi fundada em 1865, com o nome de LOJA MAÇÔNICA
REGENERAÇÃO BRASÍLICA.
Ela
foi instalada nesta capital, quando a Paraíba era governada pelo presidente
Sinval Odorico de Moura e, no mesmo ano, foi fundada ainda a LOJA MAÇÔNICA
UNIÃO E BENEFICÊNCIA, na cidade de Mamanguape.
Em 1873 existiu
uma terceira Loja Maçônica – a SEGREDO E
LEALDADE – na cidade de Campina Grande.
Essas Lojas
Maçônicas surgem numa época em que, na Paraíba, voltavam as idéias republicanas
e se esboçava o movimento da abolição da escravatura, movimento que, no Rio de
Janeiro, capital do Império, era em grande parte encabeçado pela Maçonaria.
A
Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi de autoria do Visconde do Rio Branco,
Grão Mestre da Maçonaria.
Foi
do maçom Joaquim Nabuco a iniciativa da criação da Sociedade Brasileira Contra
a Escravidão.
Foi
o Ministério Liberal presidido pelo maçom José Antônio Saraiva que conseguiu a
aprovação da Lei dos Sexagenários.
Grande
defensor da abolição da escravatura, Rui Barbosa era maçom; como era maçom José
do Patrocínio.
Por
sinal, naquele tempo, o maçom e grande tribuno abolicionista José do Patrocínio, cognominado o tigre da abolição, veio à Paraíba, em
campanha pela abolição, sendo aqui festivamente
recepcionado pela Maçonaria e pelos adeptos em geral da causa de libertação dos escravos.
O
tigre da abolição foi entusiasticamente
aplaudido pelos abolicionistas paraibanos
em 1883, ano em que o vice-presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo,
que era um abolicionista sincero, assumiu o governo da província.
Era
maçom também o poeta dos escravos, Castro Alves, que pertencia à mesma Loja Maçônica de Rui
Barbosa, a Loja América.
E
foi do maçom Rui Barbosa a iniciativa do decreto que obrigou todos os maçons
brasileiros que porventura tivessem escravos a libertá-los imediatamente. Isso,
três anos antes da lei que libertou os nascituros.
A
LOJA MAÇÔNICA SEGREDO E LEALDADE, criada em 1873, em Campina Grande, marcou o
primeiro grande conflito da Igreja Católica com a Maçonaria na Paraíba.
Em
virtude da chamada Questão Religiosa e da prisão de D. Vital, bispo de
Olinda, o vigário de Campina Grande,
padre Calixto da Nóbrega declarou guerra à Maçonaria na Serra da Borborema.
Para
reforçar ainda mais o combate, chamou em seu auxílio o padre Ibiapina,
missionário de grande força no seio do povo nordestino..
Eles
instigaram, de tal forma, o povo de Campina Grande, contra a Maçonaria, que os
maçons esperavam, de uma hora para outra, uma explosão de fanatismo exacerbado.
E
isso não demorou.
J.
Leite Sobrinho, pesquisador da história maçônica paraibana, escreveu uma página
relatando o desfecho dessa luta.
Em
1875 surgiu uma nova Loja Maçônica em Campina Grande, a LOJA MAÇÔNICA
VIGILÂNCIA E SEGREDO, e, logo em seguida, uma outra, a LOJA MAÇÔNICA
RENASCENÇA.
Era um desafio:
mais duas Lojas Maçônicas em Campina Grande?
Chegou
outro missionário à cidade, o Frei Herculano e, ao realizar uma Santa Missão,
arrastou o povo às ruas, instigou,
invadiu e destruiu a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA! Isto no centro da cidade
de Campina Grande.
Em
12 de fevereiro de 1877 – ano da mais terrível seca que o Nordeste conheceu até então – foi fundada, nesta capital,
ali no Varadouro, a LOJA MAÇÔNICA CONSTÂNCIA E LEALDADE, e em 1882, a LOJA MAÇÔNICA
LEALDADE E PERSEVERANÇA.
Todas essas Lojas
Maçônicas, porém, cerraram suas portas e os seus arquivos se perderam no tempo.
5. 5. A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Alguns
maçons paraibanos se projetaram no movimento da Proclamação da República. Foi o
caso do maçom Aristides Lobo, grande propagandista dos ideais republicanos, e
do maçom senador Coelho Lisboa.
A
projeção desses dois propagandistas da República deveu-se, porém, à sua atuação
no plano nacional. No plano estadual, não há notícia de atuação expressiva da
Maçonaria em favor da Proclamação da República.
Vale
observar que o marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República, era Grão
Mestre da Maçonaria, como era também maçom Floriano Peixoto, que o sucedeu na
presidência da República.
Em
1898, era a Paraíba governada pelo presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo,
quando foi fundada a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, que é a mais antiga
Loja Maçônica da Paraíba em funcionamento.
Ela
foi fundada no dia 16 de outubro de 1898 e no ano passado comemorou o seu
primeiro Centenário de existência ininterrupta.
Era
um ano terrível de seca, que José Américo de Almeida assim descreveu em A Bagaceira:
“Era o êxodo da
seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos,
com o aspecto terroso e o fedor das coisas podres. Os fantasmas estropiados
como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem
leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás,
como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde
iam.”
A
capital paraibana encheu-se de retirantes e flagelados.
Os
maçons se reuniram, fundaram a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE e realizaram
uma campanha angariando recursos – roupas usadas e gêneros alimentícios – para
assistirem as vítimas do flagelo.
Muitos desses
retirantes ficaram na capital, mesmo quando a seca terminou. Viam-se pelas ruas
velhos flagelados que não tinham mais força para voltar para o sertão e retomar
a luta do campo.
Rebentou
novo ciclo de seca em 1912 e o Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO
NORTE, Joaquim Manoel Carneiro da Cunha, decidiu fundar e fundou um Asilo para
Velhos, o Asilo de Mendicidade que depois tomou o seu nome, Asilo de
Mendicidade Carneiro da Cunha, instituição que ainda hoje resiste ao tempo e é
um patrimônio da Paraíba, agora com o nome da Lar da Providência.
Em
1900 surgiu a Loja Maçônica CARIDADE E SEGREDO, em Itabaiana.
Em
1903, a
LOJA MAÇÔNICA UNIÃO CATOLEENSE, em Catolé do Rocha.
Em
1911, na capital, foi criada a LOJA MAÇÔNICA SETE DE SETEMBRO.
A
LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS veio em 1918. E a REGENERAÇÃO CAMPINENSE, em 1923. Em
1927, a
PADRE AZEVEDO.
6. SEPARAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL E FUNDAÇÃO DA
GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA.
Até
então as Lojas Maçônicas da Paraíba eram vinculadas ao GRANDE ORIENTE DO
BRASIL, fundado no Rio de Janeiro em 17
de junho de 1822.
Mas,
em 24 de agosto de 1927, juntaram-se as Lojas Maçônicas BRANCA DIAS, fundada em
10 de janeiro de 1918, PADRE AZEVEDO, fundada em 24 de julho de 1927, e a REGENERAÇÃO
CAMPINENSE, fundada em 19 de agosto de 1924, e decidiram separar-se daquela
Potência Maçônica, fundando uma outra potência, a GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO
ESTADO DA PARAIBA, que hoje conta com quase 40
Lojas Maçônicas espalhadas pelo território paraibano.
Seu
atual dirigente é o Sereníssimo Grão Mestre
Edgard Bartolini, convidado para ser o nosso debatedor de hoje.
Temos
hoje na Paraíba três Potências Maçônicas: o GRANDE ORIENTE ESTADUAL DA PARAIBA,
a GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAIBA e o
GRANDE ORIENTE DA PARAIBA, às quais estão jurisdicionadas as dezenas e dezenas
de Lojas Maçônicas dos municípios paraibanos.
7. ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E
CIÊNCIAS
No
dia 2 de maio de 1998 foi instalada a ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS,
ARTES E CIÊNCIAS, sob a direção do Mestre Maçom João Ribeiro Damasceno e como secretário o orador que vos fala.
A
solenidade foi prestigiada pela presença de delegações da ACADEMIA PARANAENSE
MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS e da ACADEMIA MAÇÔNICA DE LETRAS, CIÊNCIAS
E ARTES DO NORDESTE DO BRASIL bem como de delegações de Maçons de Sergipe,
Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Com
esse passado de preocupação com o aperfeiçoamento do processo político-social brasileiro, a Maçonaria, certamente, teria de
procurar contribuir para a volta do País ao estado de direito, depois da
Revolução de 1964.
Neste
ponto, a Maçonaria da Paraíba contou com uma voz de expressão no Congresso
Nacional, a do nosso irmão maçom senador Humberto Lucena, membro da LOJA
MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, jurisdicionada à GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO
DA PARAIBA.
Esse
ilustre Maçom paraibano colocou-se, desde a primeira hora, contra os atos
discricionários da Revolução de 1964. Batalhou, sem desfalecimento, pelo
processo de abertura política e participou, na linha de frente, ao lado de
Ulysses Guimarães, da Campanha das Diretas-Já, que teve à sua frente o PMDB,
partido a que pertencia, do mesmo modo que foi também um soldado da linha de
frente na eleição do presidente Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral,
em 15 de janeiro de 1985, última eleição indireta que, em verdade, marcaria o
fim do regime militar.
Outra
grande preocupação da Maçonaria da Paraíba na atualidade é com relação à generalizada corrupção na
política e na administração do País. Inúmeros Manifestos têm sido dirigidos ao
Presidente da República pela Maçonaria da Paraíba neste sentido.
Nesses
documentos, a Maçonaria da Paraíba insiste para que o Presidente da República
exerça a plenitude da sua autoridade e da sua força para dar um basta a essa
vergonha nacional.
A
Maçonaria da Paraíba vem condenando igualmente o abuso do poder econômico no
processo político-eleitoral.
Isso
tudo, naturalmente, em função da conjuntura em que vivemos, porquanto o seu
escopo maior é o aprimoramento de todas as potencialidades da Família Humana
Universal.
9. OUTROS MAÇONS PARAIBANOS DE PROJEÇÃO EM NOSSA
VIDA PÚBLICA
Daremos
apenas alguns exemplos, a vôo de pássaro:
O
maçom JOÃO RODRIGUES CORIOLANO DE MEDEIROS foi um dos fundadores deste
Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em 7 de setembro de 1905, e é,
ainda hoje, sem dúvida, uma legenda de glória da Paraíba, como educador e como
historiador. É um dos grandes Beneméritos da Maçonaria da Paraíba. Pertencia
ele à LOJA MAÇÔNICA PADRE AZEVEDO, da qual foi Venerável Mestre em 1935.
O
maçom CLAUDIO OSCAR SOARES foi o fundador,
em 7 de maio de 1908, do jornal O NORTE, ainda hoje baluarte da imprensa
da Paraíba.
OSCAR
SOARES era membro da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável
Mestre e grande benfeitor. Esses dois últimos também pertencentes ao Instituto
Histórico.
O
maçom GUILHERME GOMES DA SILVEIRA, que também pertencia à LOJA MAÇÔNICA
REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável Mestre, foi um dos mais brilhantes
advogados da Paraíba e do Estado do Pará.
Outro
notável paraibano foi o maçom MANOEL VELOSO BORGES, que pertencia à LOJA
MAÇÔNICA BRANCA DIAS, da qual foi Venerável Mestre de 1923 a 1924, tendo sido
também Sereníssimo Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA de 1922 a 1928.
Formado
pela famosa Escola de Medicina da Bahia, depois de exercer a medicina em vários
Estados, na Bahia, no Acre, no Amazonas, no Pará, voltou para sua terra natal e
fundou aqui a SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA PARAIBA, em 3 de maio de
1924, sendo o seu primeiro presidente.
Em sociedade com seu irmão, VIRGÍNIO
VELOSO BORGES, foi um dos fundadores da Fábrica de Tecidos Tibirí, em Santa
Rita.
Foi
Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador pela Paraíba. Seu irmão VIRGÍNIO
VELOSO BORGES também foi Senador pela Paraíba.
Ainda
com aquele seu irmão, comprou a Fábrica de Tecidos Deodoro, do Rio de Janeiro e
chegou a dirigir o Sindicato das Indústrias de Tecelagem do Estado do Rio.
Ele
e o dr. VIRGÍNIO VELOSO BORGES construíram uma ala do Hospital Santa Isabel.
Foi um dos fundadores da Casa da Paraíba, no Rio de Janeiro, e membro do
Conselho do Comércio e Indústria do Brasil no Exterior, indicado pela
Confederação Nacional das Indústrias.
Foi
maçom o Senador Coelho Lisboa; foi maçom o Senador José Gaudêncio de Queiroz;
foi maçom o Senador Humberto Lucena. A Maçonaria da Paraíba sempre figurou nas
duas Casas do Congresso Nacional, e ainda agora, até bem poucos dias, lá estava
o nosso Irmão maçom JOSÉ LUIZ CLEROT, da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE,
como um dos mais atuantes deputados federais do nosso Estado.
A Maçonaria da
Paraíba tem oferecido numerosos valores à Magistratura Paraibana. Juizes,
Promotores, Procuradores, Desembargadores, Advogados e Presidentes da Ordem dos Advogados,
Professores de Direito, seria extensa a relação para citá-los um a um.
O
nosso Irmão maçom MAURÍCIO FURTADO, pai
do grande paraibano e brasileiro CELSO FURTADO, foi Procurador Geral do Estado,
Desembargador, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, membro do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano, membro da Academia Paraibana de Letras e
Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE.
Outro
grande maçom paraibano, JOSÉ AUGUSTO ROMERO, foi, ao mesmo tempo, Dirigente da
Augusta Ordem no Estado, como Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA
PARAIBA, e dirigente do Movimento Espírita no Estado, como Presidente da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA PARAIBANA.
11 – O VELHO CONFLITO IGREJA CATÓLICA-MAÇONARIA
Chegam
ao fim, neste fim de milênio, os entrechoques entre a Igreja Católica e a
Maçonaria.
O
I CONGRESSO MAÇÔNICO DO ESTADO DA PARAIBA, realizado nesta capital em 1993, incluiu, no temário de suas preocupações,
o restabelecimento das boas relações com a Igreja Católica.
Neste
sentido, um dos seus convidados de honra, foi o Padre Valério Alberton.
D.
José Maria Pires, nosso Arcebispo, foi também convidado para o Congresso. O
Arcebispo da Paraíba não foi, mas
autorizou a ida do Padre Valério Alberton.
O
Padre Valério Alberton vem defendendo em
todo o Brasil o restabelecimento das boas relações entre a Igreja Católica e a
Maçonaria, já tendo publicado livros na defesa de suas idéias.
Neste
resumo dou uma idéia do que tem sido a Ordem Maçônica no Estado da Paraíba.
Muito
obrigado.
Bibliografia
consultada:
ASLAN, Nicola.
HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA, Editora Aurora, 1979.
ALBUQUERQUE, A. Tenório d’ – A MAÇONARIA E A LIBERTAÇÃO
DOS ESCRAVOS , Editora Aurora, 1970.
LEAL, José – INTINERÁRIO DA
HISTÓRIA, Gráfica Comercial Ltda, 1965.
OCTÁVIO, José – HISTÓRIA DA PARAIBA,
Ed. Universitária, UFPB, 1997.
PINTO, Irineu Ferreira – DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA,
Ed. Universitária, UFPB, 1977.
NÓBREGA, Trajano Pires – A FAMÍLIA NÓBREGA, Instituto
Genealógico
Brasileiro, 1956.
ARAUJO, Fátima – PARAIBA: IMPRENSA E VIDA, Grafset,
1986.
GRANDE LOJA DA PARAIBA – RESENHA HISTÓRICA, 1938.
FEITOSA, Lavoisier – MANOEL VELOSO BORGES, A UNIÃO
EDITORA, 1982.
LEITÃO, Deusdedit – HISTÓRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA
PARAIBA, A UNIÃO EDITORA, 1988.
SOBRINHO, J. Leite – PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA PARAIBANA,
Revista BRANCA DIAS MAGAZINE, janeiro de 1989.
Revista do
Instituto Arqueológico Pernambucano,
XIX, 1917.
TOLLENARE,
L.F., NOTES DONINICALES PRISES PENDANT UN VOYAGE EN PORTUGAL ET AU BRÉSIL EN
1816, 1817 ET 1818.
A fala do Presidente:
Tivemos uma visão
global da Maçonaria na Paraíba e no Brasil, mostrando a influência da instituição
e dos seus membros na História da Paraíba. O levantamento feito pelo nosso
consócio Hélio Zenaide nos traz muita luz. Estou certo de que a metade dos
presentes não tinha a menor idéia da influência do movimento maçônico na
Paraíba. Eu mesmo era um deles, sem razão porque meu pai era maçom, pertencente
à Loja Branca Dias.
A importância da
instituição pode-se medir até pela participação de figuras ilustres da nossa
vida política, intelectual e social, como se depreende da breve listagem
apresentada pelo expositor.
Como debatedor,
teremos o Grão Mestre Edgard Bartolini Filho, que por sinal é neto do primeiro
Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba e ele próprio é seu
atual Grão Mestre. Bartolini é formado em Ciências Jurídicas e Sociais, com
grande atuação na nossa Universidade Federal, onde ocupou vários cargos de
relevo. É atuante dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção da Paraíba.
Passaremos, a
seguir, a palavra ao nosso debatedor, professor Edgard Bartolini Filho.
· · ·
Debatedor: Edgard Bartolini Filho: (Professor
universitário, Secretário da Ordem dos Advogados do Brasil/Paraíba e Grão
Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba)
Quero inicialmente parabenizar a
iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano promovendo este Ciclo
de Debates alusivo aos 500 anos do descobrimento da nossa pátria.
Essa série de
debates é bastante importante, principalmente para o país e numa região que não
é muita afeita à memória do seu povo e das suas instituições. É lugar comum se
dizer neste país que o Brasil é um país sem memória, e, até certo ponto, o é.
Recentemente estive
no Rio de Janeiro participando da Conferência Nacional dos Advogados e tivemos
uma solenidade no Museu Histórico, onde houve coquetel com a presença de
autoridades, e começamos a discutir sobre alguns quadros ali expostos,
inclusive alguns de Pedro Américo, e conversa vai, conversa vem, falou-se sobre
João Pessoa. A grande maioria dos nossos colegas advogados, alguns juristas
renomados, pouco ou quase nada sabiam sobre a nossa história. Um deles ficou
até admirado quando eu disse que João Pessoa já nasceu cidade. E ele não
imaginava que nossa Felipéia de Nossa Senhora das Neves já nascera cidade.
Quando a gente leva algumas pessoas para conhecerem a cidade elas ficam
admiradas quando descobrem que Felipéia de Nossa Senhora das Neves foi fundada
em 1585. Acham que nós somos muito mais novos. Nem conhecem nem se preocupam em
conhecer a nossa história. Aliás, tirando as diferenças regionais, eles se
preocupam, sim, mas em denegrir.
Com relação ao meu
papel de debatedor vou declinar, porque a palestra do nosso Irmão Hélio
Zenaide, historiador, jornalista, e hoje o principal historiador da Maçonaria
paraibana, é irretocável. Caberá aqui apenas uma ou outra complementação ou um
enfoque um pouco mais longe sobre o que seja esta instituição maçônica num
passado mais longe, num passado mais recente e na modernidade.
Felizmente a
Maçonaria não é mais uma instituição secreta naquele aspecto que muitos pensam que
ela ainda o é. A Maçonaria era tão secreta há pouco tempo atrás que o maçom
entrava na Ordem e muitas vezes a sua família não sabia que ele a vida inteira
pertenceu e trabalhou pela Maçonaria, justamente evitando essas perseguições.
Perseguições religiosas, intolerância religiosa, perseguições políticas e até
perseguições familiares. Porque se às vezes um rapaz gostava de uma moça da
sociedade altamente fechada e se o pai da moça, descobrisse que ele era maçom,
era um Deus nos acuda. Essa condição era para ele quase que uma defesa, o que
fazia da Maçonaria uma sociedade não secreta como para aqueles que a
desconheciam como uma instituição que fosse ligada ao banditismo, a esses
grandes movimentos de criminalidade, como a máfia, cosa nostra, e por aí vai.
Muita gente
estranha porque existe uma diferença, na Maçonaria, de pensamentos, mas essa
diferença é fácil de explicar.
Nós somos herdeiros
daquilo que chamamos a Ordem dos Templários, não diretamente da Ordem dos
Templários em si, mas do pensamento filosófico e científico que ficou dela, dos
construtores das catedrais. Daí também sermos conhecidos por “pedreiros
livres”, que é o que significa a palavra maçon,
em francês, idioma corrente à época. Terminada esta fase, apareceu na nobreza
européia uma divisão que até hoje ainda existe. Não pense que está adormecido.
É justamente a guerra das Duas Rosas., que dividiu a Inglaterra da França.
Depois disso tivemos aquele movimento belíssimo chamado de Renascimento, onde
as ciências, as artes tiveram mais liberdade. Para chegar aí precisou de um
grupo de pessoas de influência para que esses movimentos pudessem alcançar o
êxito que todos nós conhecemos, e que inegavelmente mudou a história da
humanidade.
Depois desse
movimento renascentista vieram os movimentos da Reforma, onde o homem pôde agir
com mais liberdade seus ideais religiosos e seus ideais
científico-tecnológicos. A partir da Reforma o mundo não foi mais o mesmo,
também como conseqüência da Revolução Francesa. Antes da Revolução Francesa
temos, no início do século XVII, os primeiros movimentos responsáveis pela
independência dos Estados Unidos.
Pois bem, por conta
da guerra das Duas Rosas a filosofia inglesa, centralizada na nobreza, era uma
filosofia mais presa, enquanto que a sociedade americana foi se libertando e
criando uma nova maneira de pensar, influindo na França, resultando na sua
grande revolução.
A partir daí
tivemos, também, uma divisão na ordem maçônica, que já estava em plena
efervescência. Nossa primeira Constituição era conhecida como Constituição de
Anderson, que foi promulgada nos Estados Unidos, no ano de 1718, quase 70 anos
antes da Revolução Francesa. A sociedade colonialista da época estava tão ávida
por liberdade que se apegou a esse ideário, aliando-se ao pensamento da
Maçonaria que surgiu nos Estados Unidos. Esse país conseguiu incutir na cabeça
de brasileiros esse ideário.
A vinda de D. João
VI para o Brasil facilitou a propagação da maçonaria em nosso país, porque ele
trouxe em sua comitiva mações portugueses que tinham esse idealismo de verdade,
igualdade e fraternidade.
Assim foi criada,
no Rio de Janeiro, a Loja Comércio e Artes, que foi oficialmente a primeira
loja maçônica brasileira. Oficialmente, é preciso repetir, a Maçonaria
brasileira começou aí. Daí muitos não reconhecerem o Areópago de Itambé como
loja maçônica. E por que não se reconhece? Quem é que iria imaginar, naquele
tempo, uma loja maçônica que ficava no interior de Pernambuco, no sítio
Oratório, a 80
quilômetros do Recife. Lógico, que nunca. Hoje nós temos
esse ranço sobre nossa própria história, quanto mais naquele tempo.
Por outro lado, por
mais paradoxal que seja, vocês percebem pela exposição do nosso palestrante,
que aqui e acolá ele fala padre tal era maçom, padre qual era maçom. E vai aqui
um registro: todos os padres que tiveram influência na história do Brasil, no
governo, direta ou indiretamente, todos eles eram maçons. Não teve um que
deixasse de ser maçom.
Aí surge a
pergunta: e a questão religiosa? É outra história, porque eles eram maçons, mas
naquela condição que existia anteriormente, que ninguém sabia que ela existia.
Depois da Revolução
de 1817, onde Frei Caneca pregou a Confederação do Equador, e foi punido por
isso, foi aí que começou de forma mais latente a efervescência da Maçonaria na
nossa região. Surgiram então as lojas mencionadas pelo expositor Hélio Zenaide,
as quais tiveram vida efêmera pela perseguição decorrente da questão religiosa
(1971, se não me engano). Pode-se ver que na realidade ninguém sabia onde
funcionavam essas lojas; sabia-se a sua existência, não sua localização.
Voltando à questão
da separação da maçonaria francesa da maçonaria inglesa. Com o advento da
República a Maçonaria pôde mostrar seu rosto, que era maçom, o que ela fazia,
mas a intolerância religiosa continuou. Não obstante, houve uma ruptura mundial
entre aquelas maçonarias. Daí, em 1927, alguns mações vinculados a essas lojas,
como disse Hélio Zenaide, Branca Dias, Regeneração Campinense, Padre Azevedo,
não satisfeitas com a orientação francesa (que eram monarquistas e não
republicanas) preferiram dar ênfase a esta segunda e apoiar a política do
Brasil, que era uma política de consolidação da República. É verdade que era
uma democracia meio capenga, onde a mulher ainda não votava, o voto não era
aberto e só quem votava eram certas classes sociais.
Dentro desse
ideário, três lojas se reuniram na noite memorável de 24 de agosto de 1927 e
resolveram fundar a Grande Loja, vinculada a essa nova ordem, essa nova
política, esse novo ideário republicano. E essas lojas, a Branca Dias nº 1, a Regeneração Campinense,
nº 2 e a Loja Padre Azevedo, nº 3. As demais continuaram no Grande Oriente, mas
com o passar dos anos foram se chegando, de forma que, hoje, 40 pertencem à
Grande Loja.
Naquela data
participaram da reunião de fundação pela Loja Branca Dias Alfredo Augusto
Ferreira da Silva, Carlos Werts, Sidrônio Mororó, Helmenegildo Di Lascio, José
Francisco de Moura e Silva, José Teixeira Bastos, Maurício de Medeiros Furtado,
Pedro Baptista Guedes e Roberto Volgrand Kelly; pela Loja Regeneração
Campinense, compareceram Antiquilino Dantas, Antônio Farias Pimentel, Generino
Maciel, José Jorinho Itamar, João Soares, José Pinto, Martiniano Lins, Severino
Alves e Severino Cruz; pela Loja Padre Azevedo, compareceram Aristides de
Azevedo Cunha, Gustavo Fernandes de Lima, Siqueira Costa, João Cândido Duarte,
João Pinheiro de Carvalho, João Rodrigues Coriolano de Medeiros, José Calixto
da Nóbrega, José Pereira da Silva, Virgílio de Barros Correia.
Na mesma noite foi
eleita a primeira diretoria. Aí aconteceu um fato inusitado. Quem presidiu a
sessão foi o maçom Augusto Simões, meu avô. Ele era o maçom mais graduado na
Paraíba e era o único maçom grau 33, naquela época. Acho necessário dar uma
explicação mais ritualística. Quando se é do Grande Oriente do Brasil nossa ritualística leva do grau 1 ao 33 e na
ritualística das Grandes Lojas há uma separação. As Grandes Lojas cuidam apenas
do grau, 1, grau 2 e grau 3, que são os graus básicos da Maçonaria, e são os
mais importantes. É como se fosse um curso de graduação. Os graus superiores,
que começam pelos graus filosóficos, além de serem optativos dependem do irmão
e do Supremo Conselho existente no Rio de Janeiro, que é quem dá a aprovação.
As Grandes Lojas administram apenas os graus 1, 2 e 3.
Quando foram
fundadas essas Grandes Lojas em 1927, elas não foram fundadas em todos os
Estados; apenas cinco Estados se predispuseram a fazer as suas Grandes Lojas.
Foram Paraíba, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. E o mapa do
Brasil foi dividido de acordo com a fundação dessas Grandes Lojas. De modo, na
realidade, a Grande Loja da Paraíba é a Grande Loja mãe da loja do Ceará (que
veio logo depois, em 1928), de Pernambuco (1943) e Rio Grande do Norte (1974).
Foi eleito como
Grão Mestre o irmão Augusto Simões. Mas como ele já exercia a
representatividade do filosofismo, ele não quis ficar com as duas coisas e
imediatamente propôs que fosse eleito como primeiro Grão Mestre o irmão Manoel
Veloso Borges, o qual foi eleito por aclamação e para Grão Mestre Adjunto, o
irmão João Arlindo Correia.
Com a renúncia de
Augusto Simões, foi-lhe dado o título Grão Mestre ad vitam, motivo pelo qual toda vez que havia um interregno entre
um Grão Mestre e outro, ou um atraso de eleição, ele sempre aparecia como Grão
Mestre.
De 1927 para cá a
Grande Loja teve os seguintes Grãos Mestres: 1927 – Augusto Simões; 1928 –
Manoel Veloso Borges; de 28 a
1937 – João Arlindo Correia; de 37
a 1944 – Otávio Celso Novais; de 45 a 1948 – Abelardo de
Oliveira Lobo; de 48 a
1954 – João Tavares de Mello Cavalcanti; de 54 a 1961 – João Arlindo
Correia, novamente; de 61 a
1963; Abel Montenegro Rocha; de 63
a 1964 – Olegário Lins e Silva; em 64, José Lopes da
Silva, foi interino; de 64 a
1970 – Pedro Aragão; de 70 a
79 – Francisco Edward Aguiar; de 79
a 81 – Francisco Mariano; de 81 a 1988 – Arlindo Bonifácio;
de 88 a 1994 – Romildo Lins de Toledo; de 95 a 97 – Edilaudo Nunes de
Carvalho; 1998 – Romildo Lins de Toledo, que faleceu após quatro meses de
grão-mestrado; de 1998 até 31.12.2000, sou eu que estou exercendo o
grão-mestrado.
Hoje não somos mais
uma sociedade secreta, e não podemos ser porque respeitamos as leis do país e a
elas estamos sujeitos. A sociedade hoje tem uma visão clara do que a Maçonaria
faz, não nos seus templos, pois ainda é uma tradição.
Há uma pergunta que
existe sempre entre os que não são mações. A pergunta é a seguinte: por que não
tem mulher na maçonaria? Não tem por culpa nossa, porque sabemos que o mundo já
mudou, e a mulher hoje desfruta um espaço que ocupa brilhantemente. A Maçonaria
como um órgão universal tem um relacionamento exterior semelhante ao nosso
relacionamento diplomático. Se colocarmos a mulher na Maçonaria, sem uma
aprovação mundial, estaremos sujeitos a perder o nosso reconhecimento. Para sermos
criados temos cartas constitutivas, que são dadas por entidades superiores. A
nossa confederação tem sua carta constitutiva dada pela Confederação
Interamericana, que por sua vez tem sua carta constitutiva dada pela Grande
Loja da França, uma das mais tradicionais que existem. Se esses dogmas não
forem modificados, nós não podemos modificá-los e ficarmos isolados e
considerados uma potência espúria.
Gostarei de dar um
depoimento pessoal sobre essa matéria, porque eu defendo a participação da
mulher na Maçonaria.
Os ensinamentos
maçônicos que tenho hoje devo à minha mãe Luzia Simões Bertoline, como devo
também a parte dos ensinamentos musicais. E minha mãe foi a herdeira do
pensamento de Augusto Simões, seu pai. Tinha quatro filhos mações e depois da
morte de Augusto os filhos homens se separaram da Maçonaria; minha mãe, nunca.
Ela continuou me passando todos os ensinamentos que ela conhecia. Conhecia pela
vivência, não pelos livros, que eram altamente fechados, hoje são mais abertos.
Inclusive ela foi perseguida pela Igreja pelo fato de ter sido filha do Grão
Mestre. Porque a Loja Branca Dias teve a audácia de quando construiu aquele
templo da avenida General Osório, o fez de maneira aberta e não mais escondida.
Foi a primeira loja que trabalhou de porta aberta ao público. O público vendo
quem entrava e quem saía, quem era e quem não era maçom. Foi esse o grande
desafio que Augusto Simões e esses irmãos que mencionei tiveram. Imagine
naquela época uma loja maçônica funcionando ma mesma rua da Catedral Metropolitana
e do Convento de São Bento, de maneira aberta. Meu avô morreu em 1944 e no
final do ano minha mãe foi casar-se e teve seu casamento negado pelo Bispo D.
Adauto. Vejam só o paradoxo. Ela foi proibida de casar na igreja, mas era
professora do Colégio Nossa Senhora das Neves e auxiliar do professor Gazzi de
Sá no Seminário Diocesano da Paraíba. Não podia casar-se na igreja, mas podia
ensinar dentro de colégios católicos. Ela só se casou na igreja em 1953, quando
o Bispo era D. Moisés Coelho, que recebeu uma comitiva das freiras do Colégio
Nossa Senhora das Neves que lhe foi fazer um apelo. E eu com cinco anos assisti
ao casamento de minha mãe.
Com esse
retrospecto penso ter complementado a brilhante exposição do irmão Hélio
Zenaide.
· · ·
A fala do Presidente:
O Grão Mestre
Edgard Bartoline Filho, nosso debatedor designado, complementou com
brilhantismo a palestra do nosso consócio Hélio Zenaide. Seu pronunciamento dá
uma visão global da história da Maçonaria no mundo e no Brasil, detalhando aspectos
pouco conhecidos de nós não mações.
Sua origem, sua
implantação no Brasil, sua filosofia e forma de funcionamento ficaram à mostra
para nosso conhecimento. As transformações, suas mudanças foram aqui
dissecadas.
Detalhes da
Maçonaria paraibana, com os vultos que a sustentaram e sustentam, foram
registrados. Sem sua participação neste Ciclo de Debates esse tema ficaria
menos enriquecido, não obstante a excelência da palestra do consócio Hélio
Zenaide.
Agora passaremos ao
debate com a participação do plenário, e eu passo a palavra ao primeiro
debatedor inscrito, que o confrade Guilherme d’Avila Lins.
· · ·
1º participante:
Guilherme
d’Avila Lins:
Tenho que elogiar a
beleza de trabalhos apresentados pelo expositor e debatedor desse tema, mas
farei a seguinte indagação: Qual a é verdadeira relação que existe, de
afinidade ou de distanciamento, de diferenças ou de aproximação entre a
Maçonaria e a antiga e mística Ordem Rosa Cruz?
Ouço dizer que
existe uma relação apenas de certo nível, na parte esotérica, mas tudo isso é
de ouvi dizer.
Outra pergunta quem
faz é o meu eu pesquisador de história. Todos nós sabemos a importância, a
influência que, ao longo do tempo, teve a Maçonaria no processo social,
político e histórico do mundo inteiro, e deste país. Imagino, como pesquisador,
que todo essa cadinho de discussão como lidar com o processo social de cada
momento histórico, imagino que atas, registros, documentos devem ter sido
feitos. Nesse sentido, imagino que o arquivo histórico da Maçonaria é um arquivo
fabuloso.
Em 1932 o papa
negro – o padre geral da Companhia de Jesus – abriu para os seus os arquivos
secretos da Companhia de Jesus. O Vaticano está abrindo também seus documentos,
gradativamente. O Mosteiro de São Bento de Olinda também está abrindo. O SNI
abriu. Então, pergunto: seria possível, do ponto de vista histórico, abrir este
acervo que imagino deva existir na Maçonaria, e que é de fundamental
importância para qualquer historiador?
Hélio
Nóbrega Zenaide,
respondendo:
Quanto aos
arquivos, não sei dizer que orientação a Maçonaria poderá tomar. Mas, nos
últimos meses do ano passado tive a oportunidade de compulsar todas as atas da
minha Loja, que tem mais de cem anos. Li da primeira à última ata. Minha
dificuldade foi identificar as palavras por causa da caligrafia da época. Mas
na Loja Regeneração do Norte temos todas as atas com todos os pronunciamentos.
Temos o discurso do nosso fundador Coriolano de Medeiros na Maçonaria. Não sei
se esses livros vão ter acesso à pesquisa de modo geral. Temos o Livro de Ouro
da fundação da Loja, com a assinatura de todos os membros presentes à fundação
da Loja, há mais de cem anos. Acho que o Grão Mestre Edgard Bartoline poderá
acrescentar alguma coisa.
Edgard
Bartoline,
complementando:
Está aqui a ata da
fundação da Grande Loja, de 1927. Está aberta a quem quiser compulsá-la. Com
relação aos demais, infelizmente não posso adiantar nada porque esse grande
acervo histórico está de posse do Grande Oriente do Brasil, que na realidade
foi a primeira instituição maçônica como potência que abrigou os nossos mações
do nosso país. Todos esses irmãos que foram citados por Hélio Zenaide e outros
que não foram citados, como Tamandaré, padre Feijó, José Bonifácio de Andrade e
Silva, Gonçalves Ledo, José Patrocínio, etc., todos eles pertenceram ao Grande
Oriente do Brasil, nessa época histórica. Não respondo pelo Grande Oriente do
Brasil, que tem seu Grão Mestre próprio, para dizer se essa documentação está
aberta aos historiadores não mações. Para os mações tenho certeza que está. E
se não estiver, tem que estar porque fatos de 50, de 100 anos, têm que ser
levados em consideração. Temos de convir que os direitos autorais terminam com
50 anos.
Com relação à
vinculação da Ordem Rosa Cruz com a Ordem Maçônica, posso dizer que são duas
coisas totalmente diferentes. A Ordem Rosa Cruz é uma ordem própria, à qual não
pertenço, mas o que li sobre ela é que ela tem base na estrutura do Egito
antigo; é uma ordem totalmente mística; é mista; é muito bem dirigida.
Recentemente sua Grã Mestra era uma mulher, o que constitui um exemplo para a
Maçonaria. Não existe essa história de que mulher não sabe guardar segredo,
pois a mulher sabe guardar mais segredo do que o homem. Existe o grau 18, do
rito escocês antigo, que se chama grau dos Cavaleiros Rosacruzes. Mas
Rosacruzes, por que? Não porque tem vinculação com a Ordem Rosa Cruz,
Rosacruzes porque tem vinculação com as Cruzadas e este grau tem como seu
patrono nosso Mestre maior, que foi Jesus Cristo. Daí também nossa crítica aos
evangélicos e católicos que não conhecem que temos graus dedicados a Jesus
Cristo. Jesus Cristo se referiu à Maçonaria em duas ocasiões especiais. O grau
18 é dedicado a Jesus Cristo; também a ele é dedicado, como filósofo, um grau
superior, que é o grau 32, onde o colocamos juntamente com seu pensamento
filosófico Sidarta Gautama, com Hermes Termogisto, com Zeus, que foi o deus
central dos gregos, com Brama e outros
pensadores. São esses grandes filósofos e pensadores da humanidade que fazem
com que a gente reverencie porque colocaram, muito antes da Maçonaria, o
pensamento que nós temos hoje, que é o pensamento voltado para a Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
2º participante:
Manoel
Silveira:
Em primeiro lugar,
meus cumprimentos para a mesa que dirige os trabalhos, ao expositor, ao
debatedor, ao presidente da mesa. Como leigo, totalmente leigo no que diz
respeito à Maçonaria, o que me chamou a atenção no momento foram as palavras do
Dr. Joacil Pereira, quando ele se referia a uma documentação enorme para o
ingresso na Maçonaria. Então, a minha pergunta é sobre os critérios para o
ingresso dos leigos na Maçonaria.
Edgard
Bartoline:
Os princípios
básicos: Ser um homem de bem e crer num ser superior. Mas, somos humanos, somos
falhos, e por mais pesquisas que façamos estamos sujeitos a passar por algumas
decepções. São coisas com que a gente se ressente. Tenho tido gratas
experiências, mas também tive experiências muito tristes. Pois não temos
condições de fazer um levantamento sobre a vida pregressa de uma pessoa em
todas as circunstâncias. Muitas vezes se vê que é um bom pai de família, bom
filho, cumpridor dos seus deveres e ingressa na Ordem, mas depois tomamos
conhecimento que ele tem um caso com uma segunda família que ninguém sabia.
Isso pode acontecer.
· · ·
A fala do Presidente:
Sentimo-nos
satisfeitos com os debates sobre nosso tema de hoje. Tivemos uma exposição
excelente feita pelo nosso companheiro Hélio Zenaide, que foi complementado
pela valiosa contribuição do debatedor Edgard Bertoline Filho.
E para abrilhantar
o debate houve alguns impertinentes, que cobraram dos expositores
esclarecimentos seguros.
Joacil Pereira
indagou logo porque não há mulher na Maçonaria. Apenas perguntou, não reclamou.
Na realidade, como
explicou o Grão Mestre Bartoline, essas instituições têm um esquema
hierárquico, superior. Se a cúpula não concorda com as mudanças, as Lojas que
são dependentes não podem inovar. Eu tenho essa experiência no Rotary
International, do qual sou participante desde 1948. O Rotary International foi
fundado em 1905 admitindo somente homens. O Rotary abriga líderes das mais
diversas atividades, mas a mulher não entrava.
Aparte
dum participante:
No Lions só depois
de 1887.
O Presidente, continuando sua fala:
Foi a mesma
situação do Rotary International, que são instituições similares. Foram
precisos mais de 80 anos para se admitir o ingresso da mulher. E hoje nós já
temos governadoras de Distrito, Diretoras e algumas exercendo importantes
funções nas Comissões Internacionais. As mudanças, nas instituições desse tipo,
são muito vagarosas.
É, portanto, uma
questão de tempo. A Ordem Maçônica é rígida, mas cedo ou tarde essa mudança se
efetuará.
Nosso expositor,
companheiro Hélio Zenaide, distribuirá com os presentes uma cópia sintética de
sua exposição.
Assinar:
Postagens (Atom)