quinta-feira, 4 de julho de 2013

MOVIMENTOS QUE DERAM ORIGEM À MAÇONARIA CONTEMPORÂNEA


                                                                                                           Moacir Alves Borges*


Falaremos, basicamente, dos principais movimentos filosóficos e das ações político-religiosas que deram azo à formação desse imenso sodalício espalhado por esse mundo afora.
Para entendermos bem como tudo aconteceu, teremos de nos remontar aos idos do início da Renascença com a conhecida expansão do mundo ocidental, isto é, o alvorecer dos descobrimentos das Américas, gerando as inevitáveis consequências econômicas e sociais aos povos daquela época em ambos os continentes.
No bojo daquele contexto, alterou-se radicalmente a distribuição dos patrimônios privados e coletivos, além
da acentuação do desequilíbrio econômico graças à enorme transferência de metais, pedras preciosas e produtos do extrativismo das Novas Terras, que subitamente adentraram ao mercado dos reinos europeus.
As fronteiras dos países que conviviam em precário equilíbrio se expandem Tratado das Tordesilhas ,
propiciando uma onda de desvairadas ambições, acrescida de insuperáveis desavenças religiosas. Tratava-se da Idade Média de tristes lembranças.
Na Idade Média, que teve início no século 5º com a queda do Império Romano no Ocidente e terminou
no século 15 com a queda de Constantinopla, o sistema de governo predominante era o feudalismo absolutista, sendo a forma de governo o da monarquia. Interagia, entre esses dois, outro poder importante, às vezes, o mais forte, o do Clero. A função do terceiro poder seria a de manter a harmonia e a submissão da população camponesa nas terras do Velho Mundo, função essa nem sempre cumprida. O poder moderador exercido pela Igreja era embasado nos conceitos filosóficos de Platão (427-347 a.C.),
muito bem alinhavado por Santo Agostinho (354-430) aos ensinamentos do cristianismo.
Posteriormente, Santo Tomás de Aquino (1225-1275) utilizou-se dos princípios aristotélicos na tentativa de explicar com racionalidade os dogmas da revelação e do Pecado Original, tentando dar entendimento ao binômio fé/razão, que eram temas obscuros e conflitantes até então.
Mesmo assim, infelizmente, as mãos de ferro do Clero não eram mais suficientes para controlar os anseios
dos povos, que passaram a por dúvidas aos princípios dos, até então, filósofos escolásticos e bíblicos.
Ainda na Idade Média e concomitantemente ao movimento dos filósofos, ou um pouquinho antes,
entretanto com grande importância, entra em cena o grande movimento da Reforma, liderado por Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564).
As contestações continuaram com Giordano Bruno (1548-1600), negando-se acreditar na Santíssima
Trindade, além de propor o panteísmo, que posteriormente foi desenvolvido por Baruch Spinoza  (1632-1677).
Giordano, tendo sido julgado pela Inquisição, ardeu na fogueira por suas idéias.
Logo em seguida o matemático Galileu Galilei (1564-1642) teve de abjurar sua teoria heliocentrista
diante da Santa Sé ao desenvolver estudos de Nicolau Copérnico (1473-1543). Muitos outros idealistas reformistas e mesmo revolucionários daqueles tempos não tiveram melhor sorte e não os citarei para não me tornar cansativo.
O fato é que, naquela época, houve grande afluxo de dinheiro e capital para o mundo ocidental, levando
as monarquias, juntamente com a nobreza e a Santa Sé, a conflitos de guerras (as Cruzadas, Góticas, Inquisição, guerra civil inglesa, Guerra da Barba, Guerra das Rosas e a dos Cem Anos), grassando injustiça social, onde só a nobreza e os religiosos locupletavam-se. As guerras eram sistemáticas, com grande sofrimento e perda de vidas humanas. Insegurança era absoluta nas cidades e nos campos. Era choro e ranger de dentes para o povo.
A Contrarreforma, que teve início com o Concílio de Trento (1545-1563), que já liquidara com Giordano
Bruno, estendeu os tentáculos a todo o mundo conhecido, chegando inclusive ao Brasil, na qual foi vitimado o padre Antônio Vieira (1608-1697).
Ao lado desse caldeirão em ebulição, surgiram, após o século 16, pensadores propondo novas maneiras de
relacionamento entre as pessoas, as nações e as coisas entre si. Assim, René Descartes (1596-1650) desenvolveu o método científico racional, onde propunha relação matemática para explicar todo e qualquer fato, sendo referência obrigatória a todos os demais pensadores e principalmente pesquisadores.
Quanto ao relacionamento entre as pessoas, houve muitos avanços, dos quais podemos citar o empirista
Thomas Hobbes (1588-1679) e o empirista liberal John Locke (1632-1704), que abordaram o homem como ser natural e social.
Com esse estágio do pensamento, o século 17 começa com um grande movimento que teve o nome de
Iluminismo. Dentre alguns pensadores iluministas, citam-se Charles Louis de Secondat ou simplesmente
Montesquieu (1689-1755), com sua obra O Espírito das Leis, criando os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário); Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), com o Contrato Social, onde desenvolve a maneira liberal de se viver, com obediência ao conjunto de leis aprovadas pelos cidadãos, a Constituição, contrapondo-se ao poder absolutista do homem natural de Hobbes.
Veja, é nesse geleia procelosa que surge ambiente ideal para criar ideais propugnando a convivência
embasada no respeito, na tolerância às diferenças de quaisquer espécies, inclusive as religiosas e doutrinárias
existentes, e que o embate e as discussões, quando necessárias, se dessem apenas no campo das ideias para que todos tivessem perspectiva de vida plena e futuro com esperança.
O destaque desse pensamento foi pinçado no conceito social de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, de
Rousseau, nos livros O Contrato Social e Emílio, ambos editados em 1762. Infelizmente, dado o caráter explosivo desses novos ideais e por propor alterações nos privilégios de séculos e séculos, a França desembocou em uma das mais horrendas fases da humanidade, a do Reinado do Terror, com a emblemática Queda da Bastilha, dando início à Idade Contemporânea. A Revolução Francesa possibilitou um marco quando conquistou a cidadania na história dos povos ocidentais.
Alguns daqueles reformadores, que por serem pensadores livres (franco), lideraram um movimento a partir
de usos, costumes e práticas dos então construtores de templos e catedrais da velha Europa de rígida disciplina, visando a uma nova maneira de convivência entre os homens. Esses pensadores livres idealistas tornaram-se, então, os maçons livres e aceitos. Esses recém-aceitos na antiga confraria dos construtores passaram a construir não os templos de tijolos e cimento, mas os templos sociais, a partir da construção do “Eu” pessoal. Criaram alegorias míticas (o mito do Mestre Hiram Abif) e místicas (partes do Velho e Novo Testamento), dando consistência humanística aos novos iniciados e demais seguidores dos Augustos Mistérios.
Muitas outras personalidades engajadas nesses novos pensamentos e princípios deram início em outros
movimentos sociais de emancipação de povos ou de grupos excluídos, como ocorreu nos Estados Unidos da América, com George Washington (1732-1799) e Thomas Jefferson (1743-1826); na América do Sul com Simon Bolívar (1783-1830), no Brasil, durante a Independência, com José Bonifácio (1763-1838) e Gonçalves Ledo (1781-1847); e durante o período abolicionista, destacando-se Américo Basílio de Campos (1835-1900); durante a República, com Fonseca (1827-1892) e Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910), etc.
Dessa forma, muitos participantes ativos dos movimentos do Renascimento e do Iluminismo foram, certamente, embora nem todos aqui citados, os iniciadores da Maçonaria que hoje conhecemos. Assim, podemos afirmar que a Maçonaria, que nasceu de momentos conturbados da história do mundo ocidental, como sempre acontece, tornou-se uma instituição liberal e de vanguarda com história de luta e sacrifícios no passado e olhos firmes no futuro.
Finalizando, entende-se que aqueles primeiros pensadores criaram a Instituição Maçônica, para, em seguida
e até os dias atuais, a instituição criada formar tantos e tantos maçons, que passaram a constituir alicerce e reserva moral dos povos contemporâneos.

* Membro da A.'.R.'. L.'. Aprendizes do III Milênio, do Or.'. de São José do Rio Preto, SP.
Fonte: · Transcrito do jornal “O COMPANHEIRO”, edição nº 84 (outubro,novembro e dezembro de 2010).

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